7º Dia de Gravação - Viaduto Apocalípse









Sábado 15h00 -
Almoçados, empolgados e equipados fomos a nossa locação apocalíptica: viaduto D. Pedro II, ou melhor, embaixo dele.

Quase no leito do quase morto rio Tamanduateí, quase dentro da avenida do Estado, meio público, meio privada, meio casa de anônimos urbanos, fomos chegando, observando e sendo observados.
Pedimos licença aos moradores e protetores do lugar e fomos começando a preparar o terreiro.

A direção de arte foi feita sob coleta de materiais já presentes no local, uma poesia visual caótica, com pedra, madeira, circuito e metal. A luz foi-se montando sob esforço de equilibrar a tonalidade estética e o expressionismo visceral que a cena pedia. O enquadramento foi nascendo das curvas e escorso dos viadutos dentro do plano. Os atores... onde tão os atores caralho!

Os atores chegaram (Bruce, Sabiá, Pablo, Maurício, Valtinho e André Raimundo)... e acreditem, sem figurino os caras já pareciam mendigos. Ao passar pela mão da Gi (figurinista), da Iara (maquiadora/assist. de arte) e Sangue de Boi (vinho de mesa) era impossível distinguir os moradores e os atores. Lapsos de realidade e ficção aconteciam em meio a mendigos, travestis, risadas, copos descartáveis e terra vermelha.

Coisa vai, coisa vem, e vamos gravar! Tudo pronto. Luz, câmera e... chuva.
Demonta a luz, monta denovo, desmonta denovo, remonta mais uma vez, a chuva se foi e foi luz.

Começamos a trabalhar com os atores, de um caos inicial a coisa foi tomando corpo, a cena foi ganhando ação, a ação foi moldando qualidade e a qualidade foi tomando intensidade. E fazendo a coisa foi sendo feita até as 22h00.

Câmera foi? Som foi? Sequência 8, Cena 38 Take 1: Ação:

38.EXT – CREPÚSCULO - VIADUTO
Chega-se abaixo de um viaduto. O frio é inteso, venta muito.
SEIS MENDINGOS estão em volta de um tambor com fogo. O chão começa a sacudir.

V.O. - Ou de nuvem...

39.EXT – Noite - Viaduto apocalipse
Estrelas caem do céu, fundindo-se com a cidade e com a terra. Câmera vai se afastando, mostrando a cidade, suas luzes. Afasta-se mais e mais, enquanto se houve a voz em off:

V.O. Há-de gritar, ainda que lhe estourem os miolos contra o muro, há-de gritar frente às cúpulas, há-de gritar louca de fogo, há-de gritar louca de neve, há-de gritar com a cabeça cheia de excremento, há-de gritar como todas as noites juntas, há-de gritar com voz tão rasgada até que as cidades tremam como meninas e rompam as prisões do azeite e da música.

(...)

fotos: Lara Valente

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